quinta-feira, janeiro 17, 2008

A paranóia

Neste mundo pós-11 de Setembro, ir para os EUA já não é brincadeira. Agora, os dados de quem entra ficam registados durante pelo menos 40 anos.

Agora, as autoridades acham-se no direito de vasculhar todos os ficheiros dos computadores portáteis dos viajantes.

Agora (novamente), a loucura está instituída como forma de controlo.

sábado, abril 07, 2007

...E por cá, o mesmo

Um casal homossexual algarvio em férias pascais no Porto disse ter sido insultado e ameaçado de agressão, pouco depois da meia-noite de hoje, no interior da 13ª esquadra da PSP daquela cidade, em incidentes que associa a "preconceito" sexual. O casal acusa ainda a PSP da 13ª esquadra (Monte dos Burgos) de não aceitar a queixa que pretendia formalizar contra os polícias. (PUBLICO.PT)


É preciso mais do que isto para comprovar o que dizia no post anterior?

Excisão a desaparecer

Pode ler-se nesta notícia (PUBLICO.PT) que

A Eritreia proibiu a mutilação genital feminina (MGF), uma prática que consiste na remoção do clítoris e que atinge 89 por cento das mulheres, islamizadas e cristianizadas, deste país africano. [...] a decisão do Governo da Eritreia prende-se com o facto de que a MGF “põe em perigo a saúde das mulheres, causa-lhes um enorme sofrimento e ameaça as suas vidas”.


Ou seja, a decisão, por muito meritória que seja, é tomada tendo em conta factores "meramente" objectivos, como o risco de vida. Isso quer dizer que é ignorada (sublimada?) a razão que se encontra por detrás destes atentados à "saúde das mulheres", a saber, o fanatismo religioso e a obediência cega a preceitos sócio-culturais.

Se é verdade que não devemos ser acometidos do grave pecado do etnocentrismo, é também verdade que há certos princípios fundadores, como o respeito pela Pessoa humana, que deveriam ser respeitados mais amplamente. Até porque muitos destes casos são processados ainda em crianças pequenas, contra o consentimento (ou sem ele, mais exactamente) das mesmas. E isto viola, mais do que o direito à saúde, o direito à própria identidade, o direito a usufruir de uma sexualidade, alvo de tantos ataques mesmo num mundo supostamente livre, "avançado". Enquanto as razões subjacentes aos problemas não forem expostas, resolver os problemas não vai alterar de sobremaneira a mentalidade o suficiente para erradicar a própria raiz dos problemas.

sábado, dezembro 02, 2006

A Bíblia maligna

Encontrei por acaso um site extremamente interessante, chamado Evil Bible. Longe de ser, por exemplo, uma qualquer bíblia satânica, é uma forma de provar a maldade que consta da bíblia usada pelos cristãos.

Deixo-vos uma pequena citação da página de abertura:

It always amazes me how many times this God orders the killing of innocent people even after the Ten Commandments said “Thou shall not kill”. For example, God kills 70,000 innocent people because David ordered a census of the people (1 Chronicles 21). God also orders the destruction of 60 cities so that the Israelites can live there. He orders the killing of all the men, women, and children of each city, and the looting of all of value (Deuteronomy 3). He orders another attack and the killing of “all the living creatures of the city: men and women, young, and old, as well as oxen sheep, and asses” (Joshua 6). In Judges 21, He orders the murder of all the people of Jabesh-gilead, except for the virgin girls who were taken to be forcibly raped and married. When they wanted more virgins, God told them to hide alongside the road and when they saw a girl they liked, kidnap her and forcibly rape her and make her your wife! Just about every other page in the Old Testament has God killing somebody! In 2 Kings 10:18-27, God orders the murder of all the worshipers of a different god in their very own church! In total God kills 371,186 people directly and orders another 1,862,265 people murdered.

The God of the Bible also allows slavery, including selling your own daughter as a sex slave (Exodus 21:1-11), child abuse (Judges 11:29-40 and Isaiah 13:16), and bashing babies against rocks (Hosea 13:16 & Psalms 137:9).

A não perder estão também pérolas como mais de 140 contradições bíblicas, ou prémios por estupidez inspirada na religião cristã. De recordar que, no caso das contradições, basta que uma esteja correcta para invalidar toda a religião (porque supostamente o deus cristão não pode falhar, sendo perfeito, e a bíblia é o veículo da sua vontade, cuja veracidade está assegurada e associada a ele; falhando uma, significa que ele falhou também em proteger a cadeia de transmissão, logo, que pode falhar, logo, que não é perfeito, um condição sine qua non para ser deus...)

Divirtam-se!

quarta-feira, novembro 22, 2006

Diálogo sobre sexualidade e poliamor

[NOTA: Devido ao carácter pessoal desta conversa, aparece aqui relativamente descontextualizada e editada para salvaguardar a privacidade de terceiros, segundo considerações éticas que consideramos inultrapassáveis. Ainda assim, este não é, de todo, um assunto encerrado ou um debate com princípio, meio e fim, mas sim um fragmento que permite a continuidade do discurso - muito embora este tenha sido o fim da conversa na realidade. Assim, não é de estranhar o tom súbito da questão; simplesmente falta o princípio da conversa, por assim dizer. Ademais, a palavra "poliamor" é um neologismo que, tanto quanto sabemos, ainda não entrou na língua Portuguesa, muito embora tenha já entrado no Castelhano e no Inglês, por exemplo. É a mistura do prefixo "poli-" (vários) com "amor", resultando numa tradução literal de "vários amores" e, na verdade, corresponde a um termo que agrega um certo número de estilos de vida diferentes entre si, com o denominador comum na recusa da monogamia como algo natural e preferível.]

Prometeu - A participação numa orgia não está nos teus planos futuros? Juntamente com a experiência lésbica, por exemplo?

Nocturna___ - Talvez, mas seduz-me mais a ideia da experiência lésbica do que a da orgia, propriamente...

P - Podes juntar ambas de certa forma num ménage-à-trois, por exemplo... Assim podes ter a tua experiência lésbica e partilhá-la inclusive.

N - Sim, mas uma coisa de cada vez... Não sei se me sentiria à vontade numa orgia. O ménage-à-trois já é mais sedutor e está sem dúvida nos meus planos, desde que satisfaça algumas condições.

P - Como por exemplo? ... Também é uma experiência que me cativa muito.

N - Basicamente que as outras duas pessoas sejam íntimas, da minha total confiança, que não faça grandes exigências depois... Principalmente tenho que ter efectivamente vontade de estar com aquelas duas pessoas ao mesmo tempo. Às vezes, em nome de experiências que queres ter, forças-te a ti próprio a tê-las sem estares preparado para isso...

P - Sim, isso é verdade. E não te esqueças que as duas pessoas devem ter confiança entre si também... E preferias que a experiência fosse com dois homens ou com um homem e uma mulher? Suponho que a participação do teu namorado é condição sine qua non, certo?

N - Sim, sem dúvida. Preferia um homem e uma mulher. Sim, ele tinha que lá estar também, para fazer sentido, até porque não há ninguém que me seja tão íntimo... Aliás, nós já falámos inúmeras vezes sobre esta possibilidade e é algo que ambos queremos. Se um dia se proporcionar e se estivermos já preparados, acho que não hesitamos. Mas a questão de se sentir mesmo preparado é essencial neste tipo de experiências. Quanto mais natural, melhor!

P - Sem dúvida, concordamos nisto ponto por ponto. Esse tipo de experiências é algo enriquecedor, que não precisa de ser cheio de fantasmas... Pode fortalecer uma ligação, abrir uma porta muito boa para, por exemplo, uma relação poliamorosa. E quando as pessoas se sentem prontas a esse nível, há uma grande ligação entre elas!

N - É mesmo! Se for natural é enriquecedor. Se não for, se for forçado, pode ser até traumatizante, no sentido de fechar o indivíduo a esse tipo de relações.

P - E de criar medos e traumas dentro da própria relação. Uma das duas partes da relação primária pode ficar a sentir-se inferiorizada. Por outro lado, a possibilidade de existir a abertura para a repetição da experiência pode abrir a possibilidade de transformar uma "experiência" pontual numa relação estável, tripartida. Claro que tudo isto não existe no abstracto, e vão haver sempre problemas.

N - Eu, pessoalmente, vejo mais este tipo de experiências como coisas pontuais e não como o início de uma "relação estável tripartida"... Mas isto é a minha visão hoje. Não sei a de amanhã. Assusta-me ainda um pouco a ideia de partilhar a nossa intimidade (minha e do meu namorado) permanentemente com uma terceira pessoa... É o único ponto de resistência em relação à minha aceitação da poligamia, como sabes. Teoricamente parece-me perfeita. Na prática, muito difícil - extremamente difícil - de realizar. As relações a dois já não são muito fáceis de gerir, quanto mais a três ou a mais... E, no meu caso, que tenho uma relação amorosa excelente, abri-la a uma terceira pessoa poderá estragá-la, bastava um de nós não estar perfeitamente preparado para tal.

P - A poliamoria nunca é perfeitamente fácil, nem lá perto. Há uma tonelada de acondicionamento que muitas vezes não conseguimos ou queremos ultrapassar. E tens também uma terceira saída, que a mim me atrai de sobremaneira e que está muito bem explorada no "The Ethical Slut", que é a noção de "fuck buddy". Tens um amigo/ amiga, que não passa disso mesmo, mas em que a vossa relação de amizade inclui a actividade sexual a par e passo com outras "normais" actividades entre amigos. E aí não tens uma obrigatoriedade, uma vinculação especial, mas uma amizade reforçada de forma superlativa.

N - Sim, também me atrai muito mais essa ideia do que a relação poliamorosa propriamente dita. E não é só uma questão de superar esse acondicionamento cultural. É da própria natureza dos sentimentos. É impossível, parece-me, colocar duas pessoas ao mesmo nível, como se o que sentimos por essas duas pessoas fosse exactamente o mesmo, e nunca é. Pode aproximar-se, mas o sentimento nunca é o mesmo. Por isso acho que a poligamia na prática traria mais problemas que prazer... Amamos muitas pessoas, mas com intensidades diferentes, por razões diferentes, não é o mesmo sentimento. E é com base nessas diferenças que se devem estabelecer as relações. Não me parece benéfico juntar esses "amores" todos o mesmo saco.

P - Mas eu penso que podes amar pessoas diferentes por uma mesma razão e com intensidades semelhantes. Acho que há um ponto em que deixamos de conseguir quantificar o sentimento por uma pessoa. Quando tens duas pessoas nessa situação, com um amor que radica na mesma razão ou base (o amor romântico), a questão da intensidade deixa de ser relevante porque deixas de conseguir escolher, não?

N - Percebo a tua ideia. Eu acho que isso é possível, embora raro. Nunca experimentei essa situação, por isso não me é tão fácil conceber a ideia. Acho que nessas alturas, quando há dois sentimentos de igual intensidade, a pessoa tem que assumir e, se for possível, passar a uma relação a três com todas as dificuldades que isso implicaria. Isto se fosse mesmo isso que a pessoa desejaria. Em relação à quantificação, penso que é algo que não acontece concretamente... Acaba por ser inconsciente. Não se faz uma escala do sentimento. Sente-se. E sabe-se que é de forma diferente e por razões diferentes.

P - De certa forma eu suponho que há aqui uma escolha difícil. Uma pessoa com esses sentimentos tem que escolher entre uma relação a dois que implica o sacrifício de uma parte dos seus sentimentos ou uma relação a três, que tem (mas não deveria ter) alguns problemas pontuais acrescidos. No entanto, rejeito a visão de que uma relação poliamorosa é obrigatoriamente mais problemática. Afinal de contas, há 50% de divórcios, o que não abona em favor da monogamia. E existem muitas vantagens para além das sentimentais numa relação poliamorosa.

N - Sim, é verdade que o grande número de divórcios não abona nada a favor da monogamia. Mas acho que isso tem a ver com as características intrínsecas do sentir humano. É por isso que as relações, quer de poligamia, quer de monogamia, nunca são pacíficas. Em primeiro lugar há que pensar na relação no geral e depois nos casos particulares.


Post conjunto de Prometeu e Nocturna___ que resulta da edição de uma conversa entre ambos.

domingo, setembro 03, 2006

Uma questão de medo

É correcto inspirar o medo? É correcta a ingerência nos assuntos de outro país apenas por motivos puramente egoístas e de manutenção do status quo? Não é isso uma forma de terrorismo - ou seja, de inspirar terror? Porque, se afinal de contas os poderosos têm medo, os fracos têm que ter ainda mais medo e auxiliar os poderosos, não é?

E, acima de tudo, não é isso que os E.U.A. estão a fazer?

Um link para consulta

segunda-feira, abril 17, 2006

Ainda a sexualidade VS a religião

Seguindo um outro post do Diário Ateísta, deparei-me com esta notícia:

Christians Sue for Right Not to Tolerate Policies

Many codes intended to protect gays from harassment are illegal, conservatives argue.
By Stephanie Simon, Times Staff Writer
April 10, 2006

ATLANTA — Ruth Malhotra went to court last month for the right to be intolerant.

Malhotra says her Christian faith compels her to speak out against homosexuality. But the Georgia Institute of Technology, where she's a senior, bans speech that puts down others because of their sexual orientation.
Malhotra sees that as an unacceptable infringement on her right to religious expression. So she's demanding that Georgia Tech revoke its tolerance policy.


Vejo aqui uma série de problemas em conjunto.

O primeiro, e mais óbvio, é - não podia deixar de ser - a expressão clara da forma reaccionária como a Igreja encara e sempre encarou a sexualidade. Já tenho desenvolvido isto noutros posts, pelo que não me vou alongar muito. A sexualidade é uma componente essencial, fundante, da psique humana; é uma das mais bem conseguidas expressões de todas as facetas humanas. Pegando em Freud novamente, até mesmo a religião pode ser vista como um sub-produto do funcionamento da psique sexual! Assim sendo, o que mais deve ser encorajado é a liberdade e a diversidade, não o contrário. É também óbvio o potencial expansivo - explosivo - que a temática da sexualidade abriga, e que tem obrigado poder atrás de poder a engarrafá-la e a administrá-la como acha melhor. O resultado é este: pessoas que lidam com o sexo de forma preconceituosa, agarrados à ilusão que existe uma diferença entre o "natural" e o "artificial". O ser humano é, por natureza, artificial. A artificialidade é naturalmente aquilo que nos identifica. O ser humano não têm essência que o preceda. Mesmo a lei divina, caso existisse, seria um caso óbvio de artificialidade - seria um código de conduta sexual imposto de forma artificial sobre os humanos, estando portanto em pé de igualdade com o sexo heterossexual.

Por outro lado, e afastando-me do campo puramente sexual, os que se opõem contra a homossexualidade - e não nos esqueçamos que todo o cristão tem que o fazer, por mandato divino - estão a limitar a concepção de Amor a uma forma puramente animalesca, ou mesmo abaixo disso, já que os comportamentos homossexuais nos animais são abundantes. Se somos seres com sapiência, com racionalidade, aquilo que nos atrai afectivamente é, em princípio, o reflexo nos outros dessa mesma racionalidade. Faz, portanto, algum sentido que essa busca do reflexo da racionalidade tenha que se restringir a condicionantes anatómicas? Seria isto o mesmo que dizer que uma pessoa amputada não está ao mesmo nível racional que uma pessoa com o corpo intacto, não? O mero facto de eu ser heterossexual não vem, suponho, invalidar a argumentação por essa mesma linha de raciocínio - não são factores físicos ou sentimentais que anulam a racionalidade.


Retiro agora alguns excertos dos meus comentários no post do Diário Ateísta para referir aspectos mais formais da questão.

O direito de cada um ter a sua escolha sexual e de a demonstrar publicamente - desde que em conformidade com o considerado normal dentro de cada sociedade - está acima dos interesses religiosos. Passo a explicar: se é verdade que a religião proiba a prática da homossexualidade, é também verdade que ver duas pessoas do mesmo sexo a beijarem-se não constitui prática de homossexualidade e, portanto, nenhum princípio religioso é quebrado.
Pelo contrário, um insulto público feito por um religioso a um casal homossexual é um acto deliberado de agressão não provocado e sem fundamento, que perturba efectivamente os destinatários dessa agressão.

A posição da jovem é anti-ética por ser claramente ofensiva contra a população homossexual. Não existe aquí crítica, apenas o atirar de insultos gratuitos. A crítica exige racionalidade, exige argumentação. Dizer "a homossexualidade é má porque Deus diz" não é um argumento, porque para o ser teria de ser provar a existência e a "omni-sapiência" de Deus. Por outro lado, os ateus normalmente argumentam contra a religião.

É também anti-democrática porque exige que uma instituição pública (a universidade) tome o partido das crenças privadas (religiosas) que ela tem. Não percebo porque é que a religião se deve sobrepor à Lei isenta, nem sequer porque é que tem que ser a religião dela a ditar as normas. Tudo isto é extremamente despótico. E seguindo Habermas, o que a jovem está a tentar fazer é uma publicitação dos seus interesses privados sem a passagem pelo processo de publicitação como ele era entendido ainda na era do verdadeiro espaço público, do tempo da sociedade de públicos e não de massa.

Prometeu

sábado, abril 15, 2006

Privados de educação

Executive funds abstinence programmes in Catholic schools

By Judith Duffy, Health Correspondent


A new abstinence programme to be introduced in Catholic Schools has raised fears that the Scottish Executive is planning a two-tier sex education system.

Ministers are to fund a £170,000 project that will set itself against “artificial contraception”. The new initiative, entitled Called to Love, will instead promote marriage and the sanctity of human life.

News of the project has confirmed the anxieties of campaigners who felt that a separate sex education system was being introduced by the back door for pupils in Catholic schools.

One critic of the Executive’s approach said the new project could “harm” children by not equipping them with impartial information on sex and relationships.

The programme, which will be launched in Catholic schools in the summer, will develop materials, a website and training for staff which place the teachings of the Church “at the heart” of guidance for pupils on relationships and sex.

Catholic education leaders have told the Sunday Herald this will mean a focus on delaying sex until marriage and that condoms and other such contraceptives will not be promoted.

Parece-me que, afinal de contas, as bestas não param nem leem o blog dos Neo-Illuminati... Este tipo de atitudes é claramente prejudicial e, para além disso, tipicamente cristão/católico, com todo um falso puritanismo e pudor que não se enquadram minimamente dentro do contexto social actual. Querer fazer com que os jovenzinhos se regulem a eles mesmos, mantendo-se afastados do sexo é, por definição [freudiana] impossível, ridículo mesmo. A vontade de suprimir aquilo que não consegue controlar e que tem um elemento de potencial perda de controlo - note-se que o totalitarismo sempre tentou regular a sexualidade, seja pela via da religiosidade salazarista, pela via da selecção artificial e "técnica" da espécie ariana. Da mesma forma, e apelando a Foucault, não se trata de um mecanismo do silêncio: repare-se, o sexo não é, de forma alguma, silenciado. Muito simplesmente, é reenquadrado e rebaixado; atrevo-me a dizer "vilanizado", de forma a que, longe de serem levados pela curiosidade, os jovens possam ser afastados pela suposta certeza de uma impureza.

Deixem que vos conte que, um dia, estava a ver um a reportagem sobre um dos muitos programas de castidade e abstinência para jovens nos EUA, e tive a infelicidade de ver um spot propagandístico que era qualquer coisa deste género: um grupo de jovens partilhava uma garrafa de água, e a outro era dado a escolher entre essa garrafa ou uma ainda por abrir. É clara a analogia da partilha como "impureza" e conspurcação do corpo, o que, muito claramente para qualquer pessoa esclarecida, tem mais que ver com o tipo de ignorância selectiva que este tipo de campanhas promove do que propriamente com o tipo de vida sexual.

Como se não bastassem os maus-tratos a essa bela coisa que é o sexo, sob todas as suas formas em consciência consentidas, ainda têm que criar estas demonizações?! Esta era, que deveria ser a da libertação e emancipação sexual que começou no século passado, está muito rapidamente a transformar-se no século do conservadorismo, em que a geração que está prestes a sair de cena se vê atarefada a tentar fazer retroceder os actuais jovens ao estado intelectual em que os seus pais se encontravam - será isto inveja do conhecimento actualmente disponível ou do que eles perderam na altura? É estranho pensar como se consegue passar do libertarismo dos anos 60 e das comunidades hippies para este "engarrafamento" do sexo em padrões mais estreitos do que a inteligência do Rato Zinger [perdão, do Bento XVI].

Vejam também isto, para obterem algumas informações interessantes sobre o resultado deste tipo de campanhas nos EUA e na Inglaterra.

sexta-feira, abril 14, 2006

Opus Dei quer fazer das suas

Opus Dei - NOTÍCIAS - Carta aberta a Sony: "Carta aberta a Sony
O Gabinete de Informação do Opus Dei no Japão dirigiu uma carta, com data de 6 de Abril, aos accionistas, directores e empregados da Sony, a propósito da película 'O Código Da Vinci', que esta empresa produziu. Disponibilizamos a tradução dessa carta.

2006/04/13"

Pois é, agora a Opus Dei quer
incluir no princípio da película um “disclaimer” que esclareça que esta é uma obra de ficção, e que qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência

o que naturalmente choca directamente com o pequeno pormenor: "A novela mistura realidade e ficção" [itálico meu].

Eu diria que eles se deviam decidir, antes de tentar influenciar de forma tão desprezível uma obra de arte, independentemente da sua qualidade.

Mais um pequeno passo para a mobilização da censura...

Prometeu

segunda-feira, abril 03, 2006

PUBLICO.PT

PUBLICO.PT: "Nas próximas semanas, os portugueses que tenham carregado ou descarregado ilegalmente músicas na internet irão receber uma carta a convidá-los a pagar uma indemnização por desrespeito dos direitos de autor ou, em alternativa, enfrentar um processo judicial.

John Kennedy, o presidente e administrador executivo da IFPI, a federação que representa a indústria fonográfica em todo o mundo, lança, depois de amanhã, em Lisboa, mais uma vaga de processos judiciais contra as pessoas que partilham ficheiros musicais, de forma ilegal, na internet.

Esta é a primeira vez que Portugal é incluído neste programa de combate à pirataria digital de músicas.
"

Ponto número um: leiam os numerosos comentários em relação ao artigo feitos no site do Público.

Número dois: e que tal se estes idiotas se deixassem de mentiras, meias-verdades e falácias e fossem tratar de coisas importantes? Andar a lutar contra a maré é uma actividade ingrata e mais valia eles deixarem-se de anacronismos estúpidos.

Prometeu

sábado, março 18, 2006

Da estranha sexualidade ocidental

Um pequeno artigo da SÁBADO nº 97 (página 34) fala de uma estudante na Polónia que foi expulsa do liceu público que frequentava por ter posado para uma edição da Playboy, sob alegações de "imoralidade e falta de ética".



Isto leva-nos a pensar sobre várias coisas ao mesmo tempo, de tal forma que quase se atropelam umas às outras, com a pressa de chegar à nossa mente e de nos mostrar o ridículo da situação exposta.



Em primeiro lugar, e mais flagrante, é o facto de uma instituição pública punir uma jovem de forma absurda e cruel apenas porque ela decidiu fazer algo que é, em última instância, um acto pessoal. Foi cometida alguma ilegalidade? Não. Foi feito algo no espaço desse mesmo liceu? Não. Alguma coisa poderia ser considerada como atentatória contra o Estado? Não. Mas, ainda assim, e como tem sido cada vez mais notório na sociedade ocidental, o Estado insiste em imiscuir-se de forma totalmente abusiva na privacidade de cada cidadão, gerindo como mostra Foucault uma microfísica do poder, mesmo quando não o faz de forma tão directa e notória. E para além deste ponto, nem sequer existe uma organização interna nas medidas tomadas: para haver semelhante coisa, seria necessário que todas as pessoas que contribuissem para qualquer material erótico/pornográfico fossem de forma semelhante atingidas pelo Estado, que perferiu fazer da jovem um exemplo de punição.



Mais que isso, reparemos para o fundamento da expulsão: "imoralidade e falta de ética". Ora, se é preciso entregar um dicionário a quem supostamente rege um liceu público, está tudo estragado, não vos parece?
A moral vem do costume, até na sua derivação linguística. E, atentendo à fortuna que tem o dono da Playboy, e ao facto de não ser ilegal a venda de revistas pornográficas no país em questão, a moralidade parece não ter nada que ver com a questão, pois como costume se vendem revistas para as quais obrigatoriamente os modelos têm que posar.
Ficamos com a questão da falta de ética. Ora, a ética é um sistema de crenças e comportamentos que um indivíduo pode construir no espaço da sua pessoalidade como forma de orientação da sua vivência na correlação com os outros. Um sujeito que usa de ética na sua vivência respeitará os outros, a sua autonomia, e relacionar-se-á com os outros de forma integrada, encarando-se a si prórprio como um outro ["soi-même comme un autre"]. À pergunta "que pessoas forma aqui lesadas pelas acções da jovem?", e que portanto poderiam ser consideradas sem ética, teremos que responder "nenhumas".



Não obstante, e para espanto geral, a verdade é que este tipo de actividades está efectivamente condenado no sistema moral da nossa sociedade, mau grado o facto de ser um acto relativamente comum. Há portanto uma contradição fundamental entre o que se diz e o que se faz, uma hipocrisia in stadio ultimo que gere toda a tábua valorativa da sociedade. Não será, por conseguinte, necessário libertarmo-nos de todas estas falsas modéstias, de todo este lodo pseudo-moral - chamar-lhe-ia mais "religioso" - que ainda atormenta as nossas mentes com semelhantes barbaridades? Não será necessário que o nosso desagrado se faça efectivamente sentir, para além de se fazer ouvir? Ou continuaremos a deixar que nos espezinhem, que nos roubem de toda a nossa humanidade, ficando quietos e calados como obedientes carneiros?



Prometeu